Textos Introdutórios:

 

Num espaço outrora regulado por S. Bento e pela  sua Regra, um equilibrado e harmonioso projecto que, escrito no século VI com um carácter mediador e de moderação entre o ascetismo Oriental e o comunitarismo devocional do Ocidente, persistiria ao longo de mais de um milénio quase como tipo do monaquismo ocidental;

 

Num espaço outrora atribuído à vida contemplativa e paciente, habitado por uma comunidade monástica cuja vida colectiva se equilibrava bem com o âmbito da vida individual de cada um dos seus membros e o tempo, dividido entre a oração, a leitura e o trabalho, era vivido em sintonia, sem atrasos nem pressas;

 

Num espaço outrora  testemunho do modo como em S. Bento se apresentava a Obra de Deus, glorificando- O na procura directa da beleza através da Arte.  

 

E é este espaço com toda a sua alma que prendeu Helena Santos. 

 

Desde há muito que a Helena se deixou seduzir pelo Mosteiro e pela sua essência, se deixou seduzir pelos seus espíritos e pelas suas memórias. 

 

Desde há muito que deixou criar laços indissolúveis e indissociáveis dos caminhos do espiritual que a liaram ao futuro.  Laços que nos propiciaram, entre outras ofertas, o belo “Sorriso nas Entrelinhas” que  iluminou o seu “Passeio em Contraluz”, feito em Tibães, em 1996. Aparição diáfana e efémera que nos embelezou a vida imediata e nos fez decompor e flutuar até nos encontrarmos com a  sua “Criação dos Anjos”.

 

Na Helena, o tempo não conseguiu esfriar a sedução e, muito pelo contrário, sedimentou emoções,  saberes e percepções.  Libertada a memória e a imaginação passou o tempo a olhar, a conceber, a construir.

 

Contendo o  papel e as fibras, jogando com a estática e o movimento, prendendo e libertando a luz, conjurando o espectro, deixando viver a memória e sonhar o sonho,  glorificando a Vida em toda a sua pureza,  a Helena, com a sua doçura de viver, com a sua delicada cortesia, com a sua disponibilidade para estar e ouvir, criou para nós o seu “Auto das Emoções”.

 

Obrigada Helena por este Instante de Arte.

 

Aida Mata   Mosteiro de Tibães, Outubro 2002

 

 

 

 

...os elementos do problema constituíam-se

na própria observação dos factos.

 

(Herberto Helder)

 

 

Entre o azul e o vermelho. O sonho e o pecado. Uma continuidade progride em espiral.

 

Ou, uma espiral progride continuamente do vermelho para o azul, do pecado para o sonho, entre o papel e o arame.

 

E ainda, como entretecer o verbo ao longo desta mancha branca sem cores nem sombras, sem fibras, sem olhos, sem tacto nem tento?

 

Aqui temos 8 instalações carregadas de 4 significados: luminosos e afiados, redondos e contrastantes. Porém, emaranham-se as palavras na busca de uma impossível pertinência. Confundem-se os números e as emoções. Desfalecem os sentidos.

 

Por isso Helena risca, pinta, molda, cruza e rasga para nosso conforto e salvação.

 

Pedro Carlos Bacelar de Vasconcelos